quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Pôr-do-sol, pipoca e música ao vivo

Três de Janeiro de 2002, Barra da Tijuca, Rio de Janeiro. Um dia marcante na minha vida. Nesse dia pude perceber o quanto que pequenas atitudes podem mudar todo o contexto de uma situação, história, etc.

Eu e um amigo meu de Brasília, o Igor, estávamos tomando uma gelada em um dos quiosques do Posto 3 ali da Barra. Conversa vai, conversa vem, passou por nós um vendedor de rede. Nessa hora, virei para o Igor e disse: - Esses vendedores de redes são os mais malas da praia, eles acham que todos que estão aqui são turistas e ainda estúpidos. Ele me perguntou o por quê do meu comentário e eu apenas respondi: -Olha só.

Eu: - Amigão, quanto custa a rede?
Vendedor: - 130 real!

Eu: - Pago 30.
Vendedor: - Qualé doutor, assim o senhor me quebra. Leva por 100.

Eu: - Pago 30.
Vendedor: - Olha o material doutor! É importado. Coisa fina. Vale pelo menos 80!

Eu: - Pago 30.
Vendedor: - O senhor é duro na queda mesmo heim doutor. Mas tudo bem, faço por 60 pra virar cliente.

Eu: - Não quero mais.
Vendedor: - Ô doutor, não precisa apelar, vou fazer por 50 pro senhor!

Eu: - Não quero mais.
Vendedor: - O senhor é turco? Murrinha heim! Tá bom, leva pelos 30.

Eu: - Já disse que não quero mais.
Vendedor: - Mas o senhor não disse que pagava 30?

Eu: - Disse. Pagava, não pago mais.

E insisti nessa resposta... até que...

Vendedor: - Poxa doutor, já são 5 horas da tarde e eu ainda não vendi nada, leva a rede por 15 reais, por favor!

Comprei a rede. O Igor não acreditava. Tomamos mais algumas e resolvemos dar um rolê. O Igor ainda estava encucado com o lance do vendedor de rede e resolveu tirar a prova por ele mesmo. Dito e feito. O primeiro vendedor que passou por nós no calçadão ele começou a negociar. Dos 130 inicias (parece que o preço inicial é tabelado), chegamos novamente aos 20, mas dessa vez não levamos a rede.

Nisso, um pipoqueiro, que estava perto da gente e prestando atenção naquela cena, comentou: - Se as pessoas fossem mais honestas, não quisessem enganar os outros dessa forma, se dariam melhor. Tenho certeza que se ele tivesse oferecido inicialmente a rede por 20 reais, vocês teriam comprado.

Concordamos com ele. Ficamos nós três discutindo os absurdos que aconteciam nesse mundo capitalista globalizado que vivemos. Lá pelas tantas, um carinha com um violão a tira-colo (que há algum tempo atrás vimos fazendo serenatas pra galera nos barzinhos, tentando descolar uns trocados), se aproximou da gente e pediu pro pipoqueiro um pouco da pipoca. Como o papo já estava em ¿como as pequenas atitudes são importantes¿, o pipoqueiro não pensou duas vezes e deu um pouco ao violonista.

Olhei para o violão e pensei: - Por quê não cantar? Pedi o violão emprestado e ao pôr-do-sol comecei a tocar legião urbana. O Igor gritava: Pipoca com música ao vivo! E gente chegando, e o pipoqueiro abrindo o sorriso. A cada três pipocas que ele vendia, dava mais ao dono do violão e outra ao Igor. Em questão de meia hora, o pipoqueiro tinha vendido o seu estoque inteiro de pipoca, tava feliz que só vendo.

Confesso que essa situação foi atípica na minha vida, assim como essa história fugiu bastante das que costumo escrever, mas fiz questão de colocá-la no blog, com o intuito de lembrarmos que são as pequenas e simples atitudes, que são capazes de nos fazer ver um belo pôr-do-sol, comendo pipoca e ouvindo música ao vivo.

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