quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Isso, foi o que eu disse.

As verdadeiras maravilhas do mundo não são monumentos históricos, grandiosos e imponentes espalhados pelos quatro cantos da Terra, mas sim, os responsáveis pela existência delas - as pessoas. Depois que mudei para Belo Horizonte, por motivos óbvios tenho andado bastante sozinho, apenas acompanhado por mim mesmo, que sem falsa modéstia, é uma companhia inigualável, mas não é sobre isso que eu quero falar.

Pois bem, nessas minhas andanças "alone", tenho tido mais tempo e oportunidade de prestar atenção naqueles que me rodeiam. Hoje, particularmente, presenciei uma conversa que jamais vou esquecer. Eu estava comendo minha tradicional picanha de domingo, num shopping aqui perto de casa, quando, de longe, já percebi a chegada de um grupo exótico. A cena parecia coisa de filme. Um grupo caipira vestido a caráter. Tamanha a perfeição, que parecia que cada integrante do grupo tinha sido cuidadosamente vestido e maquiado pra dar tal impressão.

Na frente, como se estivesse liderando os demais, vinha o que me pareceu ser o avô, embora, acredito que ninguém ali devia ter menos de trinta anos. Mais velho, falante e ainda mais caracterizado usando um chapéu amarelado com abas tortas nas laterais, foi o primeiro a puxar a cadeira e sentar na mesa ao lado da minha. Adorei, pois teria a oportunidade de dar uma “espiadinha” no papo daquela turma. Foi quando o vovô falou:

- Garçom, uma cerveja e uma porção, por favor.
- Porção de que? - Perguntou o garçom ao seu aproximar da mesa
- De copos - Respondeu o matuto.

Não me contive. Eu tinha acabado de colocar uma bela garfada de arroz com alho na boca e vocês já conseguem imaginar o que aconteceu né? Era arroz voando pra tudo que era lado. Fala sério, quem pede porção de COPOS?!!! Naquele momento, mesmo com a vergonha de ter cuspido metade da minha comida, sabia que valia a pena pedir mais uma coca-cola e esperar pra ouvir a conversa.

- Qual cerveja o senhor vai querer? - Perguntou o garçom novamente ao velho.
- Ah, eu gostaria de experimentar aquela tal de long net.
- Qual? Perguntou o garçom erguendo levemente a sobrancelha
- Long net! Aquela que vem numa garrafinha pequeninha, bonitinha.
- Não seria long neck? - Dessa vez o garçom tinha um leve sorriso nos lábios
- Isso, foi o que disse - Respondeu o velho.

Marcas decididas e o garçom se afastou. Nesse momento, o velho virou para um dos seus "netos" e disse:

- Aqui, falei com sua mãe hoje no telefone celulari...
- Celular! - Corrigiu outro neto
- Isso, foi o que eu disse. Então, ela está super preocupada, parece que o céu tá desabando por lá de tanta chuva. No dizê dela, ontem choveu até granito.
- Choveu o que? - Perguntou o neto em um tom assustado.
- Granito, aquelas pedrinhas de gelo pequeninhas que caem do céu quando a chuva é muito fria - Explicou-lhe o velho.
- Ahhh granizo! - Corrigiu o neto
- Isso, foi o que disse.

Nesse momento um conjunto de sirenes soou alto desviando a atenção de todos. O velho na mesma hora gritou:

- Nuuuu, olha o tanto de microondas da polícia! Que será que aconteceu?

Microondas da polícia??? - Pensei comigo! Não conseguia imaginar o que era e me virei pra rua, quando percebi cerca de oito ou nove micro-ônibus da polícia militar passarem em carreata pela avenida principal. Pensei novamente: Gente, que figura é essa? Porção de copos, long net, telefone celulari, chuva de granito e microondas da polícia em menos de dez minutos! Que será que vem mais por aí? Mas aquele velho senhor era também um poço de cultura. Super bem informado sobre o que acontece no mundo, ele foi rápido em dizer uma bela frase com o garçom finalmente retornou com as cervejas:

- Ramusimbora todo mundo beber meu povo. Cerveja pode, porque é o leite que ta com aquela soda gáustrica!
- É cáustica! - Corrigiu um dos netos
- Isso, foi o que eu disse.

Depois de mais uns dez minutinhos de uma proza pra lá de divertida, eu tinha acabado de dar uma bela golada na minha coca-cola quando o vovô me veio com essa:

- Tecnologia é uma coisa linda né? Olha que fantástica aquela televisão de magma - E apontou para uma enorme televisão de 42 polegadas que estava na vitrine de uma loja.

Um dos netos, após ter olhado a tv, virou e disse:
- É plasma! Televisão de plasma! Não existe televisão de magma!
- Isso, foi o que eu disse - respondeu o velho.

Mas já era tarde. No segundo que eu vi aquele senhor apontando pra tv eu cuspi novamente toda a coca-cola que tava na minha boca. Dessa vez não tive nem como disfarçar que eu não estava prestando atenção neles. Parte da coca chegou até a molhar o pé do velho que fechou a cara pra mim e disse:

- Fi, é impressão minha ou você ta ouvindo a conversa dos outros?
- Não, não, não meu senhor. Me perdoa, é que eu acabei de lembrar que esqueci minha tv de magma ligada e ela consome um bocado de energia - respondi.
- É plasma fi, não existe televisão de magma, parece burro!
- Isso, foi o que disse.

Paguei a conta e saí. Eita velho que aprende rápido!

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