quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Fofinho porra nenhuma

Meados do ano de 1998. Eu participava de um grupo jovem chamado GAMA - Grupo de Apoio ao Meio Ambiente. Era um grupo de jovens idealistas que clamavam por um mundo melhor, lutando a favor da preservação da natureza, ecologia humana, etc e tal. Éramos praticamente o Greenpeace goiano.

Uma de nossas atividades, era dar alguns cursos sobre reciclagem de lixo e educação ambiental, nas cidades do entorno do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros. Bem, em uma determinada ocasião, eu e a Tathy tínhamos que preparar umas aulas para que pudéssemos ministrar esses cursos na cidade de Colinas do Sul, em Goiás, contudo, o corre-corre que o próprio grupo nos proporcionava não nos dava tempo para tal.

Decidimos então fugir, escondido de tudo e de todos, para a casa da Diretora do IBAMA, que gentilmente nos cedeu o abrigo para que pudéssemos preparar as aulas. A casa dela ficava dentro do Parque Nacional.

Já era noite. Sentamos na varanda. O céu estava totalmente aberto, estrelado. Uma noite perfeita. Muito, mas muito frio. Roubamos algumas doses de bebidas quentes do barzinho da diretora pra podermos nos aquecer.

Foi quando tudo aconteceu.

No meio do papo de lixo orgânico pra lá, inorgânico pra cá, a Tathy começou a fazer ruídos estranhos com a boca.

Tathy: - Aqxi krru ca xi ta la có

Eu olhei pra ela sem entender nada. Perguntei:

- Tathy, você tá legal?

Mas ela parecia não me ouvir. Seus olhos arregalados, fixos em algum lugar, parecia coisa do além. E novamente, ruídos estranhos...

Tathy: - Xi cra luft pac tum ba tem

Foi quando eu decidi olhar para onde seus olhos se fixavam. Era horrível. Um animal medonho. Estava a uma distância menor que três metros da gente. Maior que um pastor alemão, mas muito, muito magro. Pernas cumpridas e finas, corpo coberto por um pêlo preto, mas com a cara bem vermelha e orelhas muito compridas também. Entrei em pânico! Entendi perfeitamente o porquê daqueles ruídos estranhos que a Tathy tava fazendo, pois comecei a soltar alguns idênticos!

Entre um "Aqxi krru ca xi ta la có" pra cá e um "Xi cra luft pac tum ba tem" pra lá eu consegui formar uma frase!

Eu: - Qui qui qui qui qui qui qui qui qui qui qui qui é aquilo???
Tathy: - Um lo lo lo lo lo lo lo lo lo lo lo lobo guará!!!
Eu: - Bo bo bo bo bo bo bo bo bo bo bo bo bo bo bora correr???
Tathy: - Me me me me me me me me me me me me me melhor não!

Ficamos quietos, sem se mexer, em pânico. O único som que ouvíamos agora eram os passos daquele bicho horrendo e o da minha caneta batendo na cadeira, de tanto que eu tremia! Alguns minutinhos nesse tec tec tec tec da caneta e o bicho foi embora, para no nosso alívio. Corremos pra dentro de casa antes que aquele monstro voltasse.

No dia seguinte, contamos pra diretora do parque o que havia acontecido. A sacana virou e disse:

- Vocês viram o lobo guará??? Que fofinho!!!

Fiquei puto. Fofinho porra nenhuma, nunca passei tanto medo! Aliás, passei sim, mas isso é uma outra história...

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